lunes, 25 de agosto de 2014

"A maior tortura", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A um grande poeta de Portugal

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




LA MAYOR TORTURA

A un gran poeta de Portugal

Para mí, en la vida, no hay deleite.
Voy llorando convulsa noche y día...
¡Y ya no tengo ni una sombra esquiva
Donde posar mi faz, donde me acueste!

¡ Ni tengo flor de malva que endereche
Mi inmensa, mi feroz melancolía!...
¡Mi pobre Madrecita, blanca y fría,
Me dio a beber la Pena con su leche!

Yo soy, poeta, un cardo despreciado,
Un brezo que se pisa cuando quieres.
¡Soy, como tú, reír muy desgraciado!

Pero aún mi tortura es mayor:
¡No ser poeta tal como tú eres
Para gritar en versos mi Dolor!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

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