domingo, 31 de agosto de 2014

"Pior velhice", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam... em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!

A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!

E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!

Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outrora...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)



PEOR VEJEZ

Soy vieja y triste. ¡Nunca el clarear
De una risa se anduvo por mi boca!
Pidiendo que me ayuden... con voz poca,
Náufraga de la Vida, he de morir!

¡La Vida, que al nacer, adorna y toca
De albas rosas la frente de mujer,
En mi mística frente tan de loca
Puso martírios sólo a envejecer!

Y dicen que soy moza... Mocedad
Entonces sólo habrá en nuestra edad,
¿O en nosotros y en nuestro pecho mora?

Tengo la peor vejez, la que es más triste,
Aquella donde ni siquiera existe
Recuerdo de haber sido moza... otrora...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

No hay comentarios:

Publicar un comentario