domingo, 21 de septiembre de 2014

"Ray Bradbury", de Mario Quintana (Esconderijos do Tempo, 1980)

Eu queria escrever uns versos para Ray Bradbury,
o primeiro que, depois da infância, conseguiu encantar-me com a suas histórias mágicas
como no tempo em que acreditávamos no Menino Jesus
que vinha deixar presentes de Natal em nossos sapatos empoeirados de meninos
e nada tinha a ver com a impenetrável Santíssima Trindade.
Era no tempo das verdadeiras princesas,
nossas belíssimas primeiras namoradas
- não essas que saem periodicamente nos jornais.
Era no tempo dos reis verdadeiramente heráldicos como os das cartas de jogar
e do bravo São Jorge, com seu cavalo branco, sua lança e seu dragão.
Era no tempo em que o cavaleiro Dom Quixote
realmente lutava com gigantes,
os quais se disfarçavam em moinhos de vento.
Todo esse encantamento de uma idade perdida
Ray Bradbury o transportou para a Idade Estelar
e os nossos antigos balõezinhos de cor
agora são mundos girando no ar.
Depois de tantos anos de cínico materialismo
Ray Bradbury é nossa segunda vovozinha velha
que nos vai desfiando suas histórias à beira do abismo
- e nos enche de susto, esperança e amor.

Mario Quintana (Esconderijos do Tempo, 1980)



RAY BRADBURY

Yo quería escribir unos versos para Ray Bradbury,
el primero que, tras mi infancia, consiguió encantarme con sus historias mágicas
como en el tiempo en que creíamos en el Niño Jesús
que venía a dejar regalos de Navidad en nuestros zapatos polvorientos de niños
y nada tenía que ver con la impenetrable Santísima Trinidad.
Era en el tiempo de las verdaderas princesas,
nuestras bellísimas primeras novias
-no esas que salen periódicamente en los periódicos.
Era en el tiempo de los reyes verdaderamente heráldicos como los de las cartas de la baraja
y del valiente San Jorge, con su caballo blanco, su lanza y su dragón.
Era en el tiempo en que el jinete Don Quijote
luchaba realmente con gigantes,
que se disfrazaban de molinos de viento.
Todo ese encantamiento de una edad perdida
Ray Bradbury lo transportó a la Edad Estelar
y nuestros viejos globos de colores
ahora son mundos girando en el aire.

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