domingo, 31 de agosto de 2014

"Pior velhice", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam... em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!

A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!

E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!

Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outrora...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)



PEOR VEJEZ

Soy vieja y triste. ¡Nunca el clarear
De una risa se anduvo por mi boca!
Pidiendo que me ayuden... con voz poca,
Náufraga de la Vida, he de morir!

¡La Vida, que al nacer, adorna y toca
De albas rosas la frente de mujer,
En mi mística frente tan de loca
Puso martírios sólo a envejecer!

Y dicen que soy moza... Mocedad
Entonces sólo habrá en nuestra edad,
¿O en nosotros y en nuestro pecho mora?

Tengo la peor vejez, la que es más triste,
Aquella donde ni siquiera existe
Recuerdo de haber sido moza... otrora...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 30 de agosto de 2014

"Desejos vãos", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser o árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como un crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)



DESEOS VANOS

¡Yo quería ser Mar de altivo porte
Que ríe y canta, vastedad inmensa!
¡Yo quería ser Piedra que no piensa,
La piedra del camino, ruda y fuerte!

¡Ser quería yo el Sol, la luz intensa,
El bien del que es humilde y va sin suerte!
¡Ser quería arboleda tosca y densa
Que se ríe del mundo y de la muerte!

Pero el Mar también llora de tristeza...
Los árboles también, como quién reza,
al cielo abren su brazos, cual creyente!

¡Y el Sol altivo y fuerte, al fin del día,
ha lágrimas de sangre y agonía!
¡Y a las Piedras... las pisa mucha gente!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 29 de agosto de 2014

"Amiga", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascéssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo niho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)



AMIGA

Déjame ser tu buena amiga, Amor,
Tu buena amiga sólo, pues no quieres
Que por tu amor yo sea la mejor,
La más triste de todas las mujeres.

¿Que sólo de ti venga ansia y dolor,
Por qué me ha de importar? ¡El que quisieres
Buen sueño es para mí! ¡Aunque peor,
Bendito seas tú si lo dijeres!

Amor, besa mis manos, detenido...
Tal como si naciésemos hermanos,
Aves cantando, al sol, en mismo nido...

¡Bésalas bien!... ¡Qué fantasía loca
Tener así, guardados en mis manos,
Los besos que soñé para mi boca!...

FLORBELA ESPANCA
(versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 28 de agosto de 2014

"Angústia", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!

E não se quer pensar!... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Querer apagar no céu - ó sonho atroz! -
O brilho duma estrela, com o vento!...

E não se apaga, não... nada se apaga!
Vem sempre rastejando com a vaga...
Vem sempre perguntando: “O que te resta?...”

Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




ANGUSTIA

¡Tortura de pensar! ¡Triste lamento!
¡Quién nos dejara silenciar tu voz!
¡Quién nos diera aquí dentro, muy feroz,
Estrangular la hidra en un momento!

¡Y no quiero pensar!... y el pensamiento
Siempre viene a morderme, muy precoz...
Querer borrar del cielo - ¡oh sueño atroz! -
¡El brillo de una estrella, con el viento!...

¡Y no se apaga, no... nada se apaga!
Viene siempre reptando, ola embriaga,
Viene siempre inquiriendo: “¿Qué te resta?...”

¡No ser más que vacío, el infinito!
¡Ser pedazo de hielo, ser granito,
Ser rugido de tigre en la floresta!

miércoles, 27 de agosto de 2014

"Noite de Saudade", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




NOCHE DE NOSTALGIA

La Noche poco a poco va a posar
En la Tierra, que inunda de amargura...
Ni la luz de la luna al consagrar
La quiso hacer divinamente pura...

Nadie viene tras ella a acompañar
Su dolor que está lleno de tortura...
¡Oigo a la Noche inmensa sollozar!
¡Oigo siempre llorar la Noche oscura!

¿Por qué estás tan oscura, así de triste?
¡Es que, tal vez, oh Noche, en ti existe
igual Nostalgia a la que yo contengo!

Nostalgia que no sé de donde irradie...
¡Tal vez de ti, oh Noche!... ¡O de nadie!...
¡Que nunca sé quién soy, ni lo que tengo!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

martes, 26 de agosto de 2014

"A flor do sonho", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...

Ó Flor, que em mim nascente sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...

Desde que em mim nascente em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




LA FLOR DEL SUEÑO

La Flor del Sueño, albísima, divina,
De milagro se abrió dentro de mí,
Como si una magnolia de rubí
Floreciese en un muro hecho una ruina.

¡Pende en mi seno el tallo blando y fino
Y no puedo entender por qué, aquí,
Esa tan rara flor abriese así!...
Milagro... fantasía... o, tal vez, sino...

¿Oh Flor, que en mí naciste sin abrojos,
por qué tienen que estar tristes mis ojos
Si triste están por el amor de ti?...

Desde que en mí naciste en noche calma,
Volé lejos en alas de mi alma
Y nunca, nunca más yo me entendí...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 25 de agosto de 2014

"A maior tortura", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A um grande poeta de Portugal

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




LA MAYOR TORTURA

A un gran poeta de Portugal

Para mí, en la vida, no hay deleite.
Voy llorando convulsa noche y día...
¡Y ya no tengo ni una sombra esquiva
Donde posar mi faz, donde me acueste!

¡ Ni tengo flor de malva que endereche
Mi inmensa, mi feroz melancolía!...
¡Mi pobre Madrecita, blanca y fría,
Me dio a beber la Pena con su leche!

Yo soy, poeta, un cardo despreciado,
Un brezo que se pisa cuando quieres.
¡Soy, como tú, reír muy desgraciado!

Pero aún mi tortura es mayor:
¡No ser poeta tal como tú eres
Para gritar en versos mi Dolor!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

domingo, 24 de agosto de 2014

"Pequenina", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A Maria Helena Falcão Risques

És pequenina e ris... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!

Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te fez tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!

O ver o teu olhar faz bem a gente...
E cheira e sabe, a nosa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente...

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou,
Que ela afaste de ti aquelas dores
Que fizeram de mim isto que sou!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




PEQUEÑITA

A Maria Helena Falcão Risques

Eres pequeña y ríes... Boca breve
Tienes, pequeño amor, color de rosa...
¡Asta de lirio frágil y mimosa!
¡Cofre de besos hecho sueño y nieve!

¡Dulce quimera que nuestra alma debe
Al Cielo que así te hizo tan graciosa!
¡Que en esta vida amarga y tormentosa
Te hizo nacer como un perfume leve!

Ver tu mirar hace bien a la gente...
Y huele y gusta, nuestra boca, a flores
Cuando dice tu nombre, suavemente...

¡Pequeña que soñó la Virgen hoy,
Que ella aleje de ti estos dolores
Que hicieron de mí esto que yo soy!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 23 de agosto de 2014

"Neurastenia", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Ave-Marias!
La fora, a chuva, branca mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza...

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza...

Chuva... tenho trsiteza! Mas porqué?
Vento... tenho saudades1 Mas de qué?
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




NEURASTENIA

¡Hoy siento el alma llena de tristeza!
¡Una campana dobla avemarías!
Fuera, la lluvia, blancas manos pías,
Hace en los vidrios puntas de Venecia...

¡El viento despeinado llora y reza
Por las alma que sufren agonías!
Aves, copos de nieve, blancas, frías,
Baten alas por la Naturaleza...

¡Lluvia... siento tristeza! ¿Mas por qué?
¡Viento... siento nostalgia! ¿Mas de qué?
¡Oh nieve que destino triste el nuestro!

¡Oh lluvia! ¡Oh viento! ¡Oh nieve! ¡Que tortura!
¡Gritad al mundo entero esta amargura,
Decid esto que siento y yo no sé!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 22 de agosto de 2014

"As minhas Ilusões", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisívil lira...
O sol é um doente a enlanguescer...

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu... e veste luto o mar...
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim... uma por uma...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




MIS ILUSIONES

Hora sagrada de un atardecer
De Otoño, en la ribera de zafira,
Suena en el aire una invisíble lira...
Enferma el sol hasta languidecer...

¡Quiere la ola en brazos sostener,
En dolor de revuelta lleno de ira,
La dorada cabeza que delira
En último suspiro, estremecer!

El sol murió... y viste luto el mar...
Yo veo la urna de oro, balancear,
En la flor de las ondas, en la espuma.

Mis Ilusiones, dulces cual tesoro,
También las vi partir en urna de oro,
En el mar de la Vida... una por una...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 21 de agosto de 2014

"Dizeres íntimos", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento de Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida!...”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




DECIRES ÍNTIMOS

¡Es tan triste morir a tierna edad!
¡Y voy a ver mis ojos, penitentes
Vestidos de morado, cual creyentes
De un sombrío convento de Piedad!

¡Y luego miraré (¡con que ansiedad!...)
Mis manos finas y languidecientes,
De blancos dedos, cual bebés dolientes
Que han de morir en plena mocedad!

¡Ser. joven es tener el Paraíso,
Tener la vía abierta, al sol, florida,
Donde todo es luz y gracia y risa!

Y mis veintitrés años... (¡Soy tan nueva!)
Dicen riendo: “¡Que linda la vida!...”
Responde mi Dolor: “¡Que linda cueva!”

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

miércoles, 20 de agosto de 2014

"A minha dor" de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

A vocé

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobre de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento. Há lirios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vé... ninguém...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




MI DOLOR

Para ti

Es mi Dolor como un convento ideal
Lleno de claustros, sombras, arquerías,
Dónde las piedras, viejas y sombrías,
Tiene líneas de un fino escultural.

Las campanas, tañidos de agonías
Al gemir, conmovidas, por su mal...
Y todas un doblar de funeral
Al dar las horas del correr los días...

Es mi Dolor como un convento. ¡Hay lirios
De un rojo macerado de martirios,
Tan bellos como nunca los vio nadie!

En el triste convento dónde moro,
Noches y días rezo y grito y lloro,
Y nadie me oye... nadie me ve... nadie...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

martes, 19 de agosto de 2014

"Torre de névoa", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que fantasia,

Criança doida e crente! Nos também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!...”

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




TORRE DE NIEBLA

Subí a lo alto de la Torre mía,
Hecha de humo, nieblas y luar,
Y me puse, turbada, a conversar
Con los poetas muertos, todo el día.

Les conté de mis sueños, la alegría
De mis queridos versos, mi soñar,
Y todos los poetas, al llorar,
Entonces me dijeron: “¡Que utopía,

Niña dolida y crédula! Nosotros
Tuvimos ilusiones, como otros,
¡Y todo nos huyó, se fue con duelo!...”

Callaron los poetas, tristemente...
¡Y desde entonces lloro amargamente
En mi delgada Torre junto al cielo!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 18 de agosto de 2014

"Lágrimas ocultas", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




LÁGRIMAS OCULTAS

Si me pongo a pensar en otras eras
En que reí y canté y era querida,
Me parece que fue en otras esferas,
Me parece que fue en otra vida...

Y mi afligida boca dolorida,
Que ofrecía reír de primaveras,
¡Afina líneas graves y severas
Y cae en abandono de excluida!

Y miro, pensativa, hacia lo vago...
Toma el aspecto plácido de un lago
Mi semblante de monja de marfil...

Y si lágrimas lloro, blanca y calma,
¡Nadie las ve brotar dentro de mi alma!
¡Nadie las ve caer dentro de mí!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

domingo, 17 de agosto de 2014

"Tortura", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir de coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro com um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




TORTURA

¡Sacar de dentro mío la Emoción,
La lúcida Verdad, el Sentimiento!
- ¡Y ser, tras de llegar del corazón,
puñado de ceniza suelto al viento!...

¡Soñar un verso de alto pensamiento,
Y puro como un ritmo de oración!
- ¡Y ser, tras de llegar del corazón,
la nada, el polvo, el sueño de un momento...

Así, rudos, vacíos, son mis versos:
¡Perdidas rimas, céfiros dispersos,
Con que engaño a los otros, con que miento!

¡Quién pudiera encontrar el verso puro,
El verso altivo y fuerte, extraño y duro,
Que dijera, al llorar, lo que yo siento!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 16 de agosto de 2014

"Castelã da Tristeza", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor.
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém.

Castelã da Tristeza, vês?... A quem?...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio... nada... ninguém vem...

Castelã da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais?...

À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho?... Porque anseias?...
Que sonho afagam tuas mãos reais?...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




DUEÑA DE LA TRISTEZA

Altiva, acorazada de desdén,
Habito en mi castillo: el Dolor.
Pasa junto a él la luz de todo amor...
Y en mi castillo nunca entró también.

Dueña de la Tristeza, ¿ves?... ¿A quién?...
- Y mi mirar es interrogador -
Escruto, lejos, luces del albor
Llora el silencio... nada... ni recién...

Dueña de la Tristeza, ¿por qué lloras
Leyendo, toda blanca, un libro de horas,
A la sombra bordada de vitrales?...

De noche, asomada a las almenas,
¿Por qué rezas bajito?... ¿Por qué penas?...
¿Qué sueños acarician manos reales?...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 15 de agosto de 2014

"Eu", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incomprendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vé...
Sou a que chaman triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porqué...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




YO

Yo soy la que en el mundo anda perdida,
Yo soy la que en la vida marcha inerte,
Soy la hermana del Sueño, y de esta suerte
Soy la crucificada... la dolida...

¡Sombra de niebla tenue y elidida,
A la que el sino amargo, triste y fuerte,
Impele brutalmente hacia la muerte!
¡Alma de luto siempre incomprendida!...

Soy aquella que pasa y nadie vé...
Soy la que llaman triste al conocerme...
Soy la que llora sin saber por qué...

Soy tal vez la visión que Alguien soñó,
¡Alguien que vino al mundo para verme
Y que nunca en la vida me encontró!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 14 de agosto de 2014

"Vaidade", de Florebela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

FLORBELA ESPANCA ("Livro de Mágoas, 1919)



VANIDAD

Sueño que soy la Poetisa electa,
La que lo dice todo y todo sabe,
¡Que tiene inspiración pura y perfecta,
Que culmina en un verso el alquitrabe!

¡Sueño que un verso mío tiene jade
Para alumbrar el mundo! ¡Y que enderecha
Aún a aquellos que mueren de saudade!
¡Aún los de alma profunda e insatisfecha!

Y sueño que soy Alguien en el mundo...
¡Aquella de saber vasto y profundo,
A cuyos pies la Tierra anda curvada!

Y cuando más en cielos voy soñando,
Y cuando más en lo alto voy volando,
¡Me acuerdo de mi sueño... Y no soy nada!...

FLORBELA ESPANCA ("Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

miércoles, 13 de agosto de 2014

"Este livro", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas",1919)

Este livro é de mágoas. Desgraçados
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode, talvez, senti-lo... e compreendê-lo.

Este livro é para vós, Abençoados
Os que os sentirem, sem ser bom nem belo!
Biblia de tristes... Ó Desventurados,
Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo!

Livro de Mágoas... Dores... Ansiedades!
Livro de Sombras... Névoas e Saudades!
Vai pelo mundo... (Trouxe-o no meu seio...)

Irmãos na Dor, os olhos rasos de água,
Chorai comigo a minha imensa mágoa,
Lendo o meu livro só de mágoas cheio!...

FLORBELA ESPANCA (De "Livro de Mágoas", 1919)



ESTE LIBRO

Este libro es de penas. ¡Desgraciados
Que en el mundo pasáis, llorad al leerlo!
Sólo vuestro dolor de Torturados
Puede, tal vez, sentirlo... y comprenderlo.

Este libro es el vuestro, ¡Bendecidos
Los que lo oigáis, sin ser bueno ni bello!
Biblia de tristes... ¡Oh Desventurados,
Que vuestro gran dolor se calme al verlo!

¡Libro de Penas... Dolores... Ansiedades!
¡Libro de Sombras... Nieblas y Saudades!
Va por el mundo... (Lo llevé en mi seno...)

¡Hermanos de Dolor, de risa ajena,
Llorad conmigo de mi inmensa pena,
Leyendo el libro de mis penas lleno!...

FLORBELA ESPANCA (De "Livro de Mágoas", 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

martes, 12 de agosto de 2014

"Elegia de Vallvidrera", (i V a VIII), de Joan Viñoli ("Passeig d'aniversari", 1984)

V

Vaig tot seguit a coure aquelles menges
que no tan sols la terra m'ha donat,
sinó la cura amb què les vaig regar
anys i mes anys, en dies de sequera,
per l'àrid temps. Les coc amb poca sal,
que no perdessin el seu gust, i sense
massa condiments: sé prou, amics,
que no estimeu la cuina complicada.

Beguem el vi de la collita propia,
que sé com esta fet: vaig veremar el vinyet
de ceps d'amor, d'anhel i de recança,
mirant el mar, i vaig premsar el raïm
amb peus de caminant, i va passar en el cup
els dies justos.

Ara, amics, anem
a celebrar l'àpat companyonívol;
de res no cal parlar, que la guspira
de l'esperit es manifesta als ulls
i som un tot sabent-nos solidaris.



V

Seguidamente voy a cocer esos alimentos
que no sólo me ha dado la tierra,
sino el cuidado con que los regué
años y años, en días de sequía,
durante el tiempo seco. Los cuezo con poca sal,
no perdieran su sabor; De sobra sé, amigos,
que no os gusta la cocina complicada.

Bebamos el vino de la propia cosecha,
que sé como está hecho: vendimié el viñedo
de cepas de amor, de anhelo y de pena,
mirando el mar, y prensé la uva
con pies de caminante, y pasó en el lagar
los días justos.

Ahora, amigos, vamos
a celebrar la comida de hermandad;
no es necesario hablar de nada, pues la chispa
del espíritu se manifiesta en los ojos
y somos uno sabiéndonos solidarios.


VI

Oh cessa tot, al centre del silenci,
quiet, sense fissures, i ja tot és molt distant
i sense afany de res, com en un temps
imaginat:
                allà, més d'una volta
vàrem estar, potser perquè estimàrem
sense desig: no ens vàrem mai tocar,
ni no ens besàrem amb goluda fúria,
ans reteníem constantment l'alè,
plens de ser l'un miracle per a l'altre,
vivint en el poètic, assumint
que no és dat poseir res, només absència
devers on es camina amb ulls oberts
a la claror invisible.
                                  Sí, de què
viuríem si no fos d'aquets besllums
de permanència feliç, quan tot es precipita
sense parar a l'abisme i bufa un vent
sense recurs?
                      L'oasi
del pur estar beat, l'enyora sempre
l'itinerant.
                  Qui busca en trobarà
potser un miratge fèrtil, que l'oasi
no és enlloc.
                    Què ho fa que el recordem?



VI

Oh cesa todo, en el centro del silencio,
quieto, sin fisuras, y ya es muy distante todo
y sin afán de nada, como en un tiempo
imaginado:
                  allá, más de una vez
estuvimos, quizás porque amamos
sin deseo: no nos acariciamos nunca,
ni no nos besamos con glotona furia,
más bien reteníamos constantemente el aliento,
completos por ser el uno milagro para el otro,
viviendo en lo poético, asumiendo
que no es posible poseer nada, sólo ausencia
hacia donde se camina con los ojos abiertos
a la claridad invisible.
                                  Sí, ¿de qué
viviríamos si no fuera por estos atisbos
de permanencia feliz, cuando todo se precipita
sin cesar al abismo y sopla un viento
sin recurso?
                    El itinerante
añora siempre el oasis
del puro estar beato.
                                Quién busca encontrará
quizás un fértil espejismo, pues el oasis
no está en ninguna parte.
                                      ¿Qué hace que lo recordemos?


VII

Què significa en veritat
tenir records?
                        Una campana buida
toca a passat, i totes les figures
del pessebre a la llum del celobert
del pis antic, solemne, es deixondien
frisoses d'anar a plaça, que el Nadal
era ja prop, clar i entelat.
                                  Vastes i buides,
les cambres de grans llits de matrimonis
una mica ja vells: emana fred silenci
de la claror somorta d'aquests vidres
esmerilats.
                      Quan tu no hi siguis,
què se'n farà de tot això que fou
ànima teva persistent d'argila,
que tot ho guarda imprès i tou malgrat
no ser-hi tu?
              Seràs record
de tu mateix, estel que voleja, solt,
en un remot suburbi dellà el temps,
sense mà que el retigui, ja el cordill
amb el deçà, trencat?
                          Ara, però, m'estic
bevent recança, en un racó de vespre
del meu hivern: ressonen cascavells,
veus alegres d'infant s'oculten pel silenci,
jugant a fet, i corrugades fulles
mortes de faig s'arremolinen, ertes,
sota una ràfega de vent furtiu
de l'apagat, respectuós novembre.

Es drecen altes les muntanyes. Neva.
Crema a l'estufa bosc.
                                      Aquí, tot, ara,
s'ha deturat.



VII

¿Qué significa en verdad
tener recuerdos?
                            Una campana vacía
toca a pasado, y todas las figuras
del pesebre a la luz del patio de luces
del piso antiguo, solemne, se espabilaban
impacientes por ir a la plaza, pues la Navidad
estaba ya próxima, clara y empañada.
                                          Vacíos y vastos,
los aposentos con grandes camas de matrimonio
ya un poco viejas: un silencio frío emana
de la claridad mortecina de estos vidrios
esmerilados.
                      Cuando no estés,
¿qué será de todo esto que fue
tu alma persistente de arcilla,
que todo lo guarda impreso y blando a pesar de no
ser tú?
¿Serás recuerdo
de ti mismo, cometa que volea, suelta,
en un remoto suburbio de aquel tiempo,
sin mano que la retenga, ya roto el cordel
por esta parte?
                            Pero, ahora, me estoy
bebiendo sentimientos, en un rincón del anochecer
de mi invierno: resuenan cascabeles,
voces alegres de niños se ocultan por el silencio,
jugando al escondite, y arrugadas hojas
muertas de haya se arremolinan, yertas,
bajo una ráfaga de viento furtivo
del apagado, respetuoso noviembre.

Se elevan altas las montañas. Nieva.
Quema en la estufa el bosque.
                                                Ahora, aquí, todo,
se ha detenido.


VIII

Un altre hivern i cada cop més àrid:
al fons de l'avinguda, el pomerar
s'ha tornat una taca de silenci
lilós que ja no esquinça cap lladruc,
planura enllà, i es van apagant de pressa.
Adéu!, adéu!
                      Embriagat de flaires
de fum de llenya al bosc i de resines,
encenc la salamandra dels records,
que tira bé:
                    m'enterboleixo, veig
per clivelles al mur la naixença d'albes
antigues que no van arribar a ser
ple dia mai,
                    tot l'enderroc dels anys,
allà i aquí, trossos de marbre, focs,
vells arbres secs. I en moltes vies mortes
trens aturats.
                        Sóc una golfa plena
de mals endreços, però cap soroll
ningú no sentirà quan la devasti
la màquina del temps.
                                      Que un dia algú
va entrar-hi brusc, transfigurant-la tota
i amb tanta llum que vaig quedar-me cec,
però vident d'alguna cosa certa,
certíssima:
                  estel fix mirant-me fit
en la foscor.
                    D'ençà d'aquell excés
totes les coses se'm canvien sempre
en altres de millors, insòlites; si rocs,
en diamants; si didals, en campanes
tocant a festa; si agulles de cosir,
en parallamps d'acer; si cavallets de fira,
en constel.lacions.
                              I, doncs, és falsa
tota queixa que digui, tot gemec que faci,
tot ploricó:
                    que el que, però, perdura
ho funden els poetes.
                                  Tant és així que l'àrid
hivern amb què s'obria aquest poema
ha esdevingut, en fer-lo, fèrtil juny
feliç, afirmatiu, il.limitat,
i tot el blat es torna pa de vida.



VIII

Otro invierno y cada vez más árido:
en lo hondo de la avenida, el manzanal
se ha vuelto una mancha de silencio
lila que ya no rasga ningún ladrido,
planicie allá, y se va apagando deprisa.
¡Adiós!, ¡adiós!
                          Embriagado de olores
de humo de leña en el bosque y de resinas,
enciendo la salamandra de los recuerdos,
que tira bien:
                    me enturbio, veo
por las grietas del muro el nacimiento de amaneceres
antiguos que no llegaron a ser
pleno día nunca,
                          todos los escombros de los años,
aquí y allá, trozos de mármol, fuegos,
árboles viejos secos. Y en muchas vías muertas
trenes parados.
                        Soy una buhardilla llena
de trastos viejos, pero nadie
oirá ningún ruido cuando la devaste
la máquina del tiempo.
                                    Pues alguien un día
entró bruscamente, transfigurándola toda
y con tanta luz que me quedé ciego,
pero vidente de algo cierto,
certísimo:
              una quieta estrella mirándome fijamente
en la oscuridad.
                        Desde aquel suceso extraordinario
todas las cosas siempre se me transforman
en otras mejores, insólitas; si piedras,
en diamantes; si dedales, en campanas
tocando a fiesta; si agujas de coser,
en pararrayos de acero; si caballitos de feria,
en constelaciones.
                            Así, pues, es falsa
cualquier queja que formule, todo gemido que profiera,
todo lloriqueo:
                      que, sin embargo, lo que perdura
lo fundan los poetas.
                                Tanto es así que el árido
invierno con que se abría este poema
se ha vuelto, al escribirlo, fértil junio
feliz, afirmativo, ilimitado,
y todo el trigo se vuelve pan de vida.


JOAN VINYOLI (De "Passeig d'aniversari", 1984)
(Versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 11 de agosto de 2014

"Elegia de Vallvidrera", I a IV, de Joan Vinyoli (De "Passeig d'aniversari", 1984)

I

Per què paraules? Aquest blau intens
del mar és prou. Miro la ratlla fixa
de l'horitzó,
                    mar grandiós, i quanta
riquesa guardes, per a qui? Jo no sóc bus
que cerca vells tresors: el que m'atreia,
perles que avans havian estat ulls,
no ho troba algú tot sol, ans calen dos,
amb una sola, neta, lliure, confluent
mirada que es projecti més enllà
de tota perla -sols llavors arriben
“feliços pocs”.
                        No, jo sóc sol, però l'embat
de les onades em conforta. Tot és lluny i prop,
i no s'acaba mai aquest viatge
per les paraules:
                          ja no tinc res més.



I

¿Para qué las palabras? Este azul intenso
del mar es suficiente. Miro la raya fija
del horizonte,
                      mar grandioso, ¿cuánta
riqueza guardas, y para quién? Yo no soy buzo
que busca viejos tesoros: el que me atraía,
perlas que antes habían sido ojos,
no lo encuentra nadie solo, sino que hacen falta dos,
con una sola, limpia, libre, confluyente
mirada que se proyecte más allá
de toda perla -sólo entonces llegan
“unos pocos felices”.
                                Sí, yo estoy solo, mas el embate
de las olas me conforta. Todo está lejos y cerca,
y no se acaba nunca este viaje
por las palabras:
                          ya no tengo nada más.


II

Anem ara, en silenci, recobrant
pel riu del temps quiet totes les coses.
Redescobrim els camps: observa la masia,
els ànecs i les oques al bassal,
el safareig a un angle solellós
del pati: roba estesa regalima,
la masovera surt i crida l'aviram,
mentre al bladar transita la recol.lectora,
que escampa al seu redol
bales de palla ben atapeïda,
i va perdent-se en l'aire la fressa del tractor,
que llaura ja el guaret; són els penats
encara vius: es per això que dormen
les bèsties a l'estable i un recolliment
s'estén pertot. Aclucarem els ulls:
se'ns n'obriran uns altres en el somni
que hi veuran més en l'orba obscuritat.



II

Vayamos ahora, en silencio, recobrando
por el río del tiempo quieto todas las cosas.
Redescubrimos los campos: observa la masía,
los patos y los gansos en el estanque,
el lavadero en un ángulo soleado
del patio: gotea ropa tendida,
la guardesa sale y llama al averío,
mientras en el trigal transita la recolectora,
que esparce a su alrededor
balas de paja muy prieta,
y se va perdiendo en el aire el ruido del tractor,
que labra ya el barbecho; están aún vivos
los pesares: por eso sé que duermen
los animales en el establo y un recogimiento
se extiende por todas partes. Cerraremos los ojos:
se nos abrirán otros en el sueño
que verán más en la ciega oscuridad.


III

Per què, mot arribat encara sense
projecte de sentit, m'empenys a capbussar-me
dins una aigua profunda a percaçar
l'única perla enmig de tants de nacres
banals, que tingui un orient prou bell
perquè un celest orfebre pugui en l'èter
encastar-la, jugant, en una lleu muntura
de llum que els nostres ulls no veuen?
                                                            Déus,
per a què som sinó per a l'intent
de preparar amb les coses de la terra
una ofrena a vosaltres, que no sou
més, tanmateix, que allò que ens és precari
per donar-nos sentit, certesa i força?

Sí, ja sé prou que el mut submarinista
que va per folga a tot mor ofegat,
però qui cerca peixos impossibles
no esdevindrà madrèpora o rocall,
ans viurà sempre en xarxes invisibles.



III

¿Por qué, palabra llegada aún sin
proyecto de sentido, me empujas a zambullirme
en aguas profundas para perseguir
la única perla entre tanto nácar
banal, que tenga un oriente lo bastante bello
para que un orfebre celeste pueda engastarla
en el éter, jugando, en una leve montura
de luz que nuestros ojos no ven?
                                                  Dioses,
¿para qué existimos sino para el intento
de preparar con las cosas de la tierra
una ofrenda para vosotros, que, aún así,
no sois más que aquello que nos es precario
para darnos sentido, certeza y fuerza?

Sí, bastante sé ya que el mudo submarinista
que va a todas por broma muere ahogado,
pero quien busca peces imposibles
no se transformará en madrépora o rocalla,
sino que vivirá siempre en redes invisibles.


IV

Ara puc dir: sóc a la font i bec,
i bec fins a morir-me
de set de voler més no saben què,
que és així com no es mor
en veritat del tot: vivint en la fretura
d'alguna cosa sempre.
                                  Sense
fretura, què seria de nosaltres,
aquets a qui fou dat el privilegi
de la santa follia de ser càntic,
vent desfermat, incendi
que es destrueix a si mateix, mentre salvades
queden les coses que tocà i més pures.
Oh, il.luminats! La nostra
comesa humil: obrir del tot orelles
al primigeni cant
                            i declinar.



IV

Ahora puedo decir: estoy en la fuente y bebo,
y bebo hasta morirme
de sed de querer más sin saber qué,
que es así como uno no se muere
en verdad del todo: viviendo en la carencia
de algo siempre.
                          Sin
carencia, qué sería de nosotros,
a quienes fue concedido el privilegio
de la santa locura de ser cántico,
viento desatado, incendio
que se destruye a si mismo, mientras quedan
salvadas y más puras las cosas que tocó.
¡Oh, iluminados! Nuestro
humilde cometido: abrir las orejas del todo
al primigenio canto
                              y declinar.


JOAN VINYOLI(De "Passeig d'aniversari", 1984)
(Versión de Pedro Casas Serra

domingo, 10 de agosto de 2014

"Sense mans", de Joan Vinyoli

I

Mai més i Sempre són germans
irreconciliables, de naixença, en l'home.
En va cerquem, en va trobem:
                                                allò
que és assolit esdevé sempre, a l'acte,
mai més, com engolit per una
boca voraç.
                    I tot seguit projectes
desenfonyats de nou, experiments, deliri
de ser feliç, fressa de clarions
a la pissarra de la vida:
                                      l'aire
que respirem se'ns torna a voltes música,
una gota de rou tot d'una es fa verí.
Tot és un jeroglífic cada cop
més complicat de desxifrar; fascina,
però, com mirar el foc o el mar o la boirosa
planura dels records.
                                Els mots, en veritat,
no són sols per entendre'ns pel que signifiquen,
sinó per descubrir el que, transparents, oculten.



I

Nunca más y Siempre son en el hombre
hermanos irreconciliables de nacimiento.
En vano buscamos, en vano hallamos:
                                                        lo que
se alcanza se torna siempre, en el acto,
nunca más, como tragado por una
voraz boca.
                  Y seguidamente proyectos
iniciados de nuevo, experimentos, delirio
de ser feliz, chirrido de tizas
en la pizarra de la vida:
                                      el aire
que respiramos se nos vuelve a veces música,
una gota de rocío de pronto se transforma en veneno.
Todo es un jeroglífico cada vez
más difícil de descifrar, fascina,
sin embargo, como mirar el fuego o el mar o la brumosa
planicie de los recuerdos.
                                        Las palabras, en verdad,
no existen sólo para entendernos por lo que significan,
sino para descubrir lo que, transparentes, ocultan.


II

Faig de no res, amb mots, un provisori
replà, quan ja l'escala no segueix
i dóna al buit-
                        des d'on es pugui veure
l'esplanada del temps amb somnis aparcats
per sempre més: al fons, un monòlit de pòrfir
que no respon a cap interrogant. Oberts,
els ulls miren un blau intens de mar
en moviment que es va tornant de sorra.
Oh terrible desert. I no canvien mai
sorra en aigua els poetes, baldament
s'ho proposés algun. Canvia alguna cosa,
però, si els mots, alliberats
de llur sentit primer, potenciant-lo, evoquen,
a poc a poc, desfent-se en espirals,
com d'una pipa el fum o el baf d'un plat de sopa
calenta.
              Sí, les busques marquen hores,
llavors, de quan aquesta sala absorta
va ser un espai de tarda de cortines
feixugues transformant amagatalls
de crits en amorosos xiuxiueigs, i passen
melindros tous de tassa a tassa.
                                                    Fràgil,
de porcellana de molts anys, la nina
m'espanta amb aquests ulls envidreïts
que tal vegada es miren amb les conques buides
d'aquella de qui fou joguina predilecta. Quines
llàgrimes de quincalla de frustrats amors,
al mocador brodat?
                                Tot és a lloc, la pols
inexistent s'ha fet opac silenci
de xocolata espessa amb llet.
                                                On, els absents
que aqui visquerent?
                                  Viure? Pel desert
ja ni hi transita cap camell; l'oasi,
posat que t'escanyés la set o que tinguessis
irresistible fam de dàtils d'ultramort,
és dellà els mots un transparent silenci.
Doncs passa-hi a través i se't farà tot clar.



II

Hago de la nada, con palabras, un rellano
provisional, cuando la escalera ya no continúa
y da al vacío-
                      desde donde se pueda ver
la explanada del tiempo con sueños aparcados
para siempre: al fondo, un monolito de pórfido
que no responde a ningún interrogante. Los ojos,
abiertos, mirando un azul intenso de mar
en movimiento que se va volviendo de arena.
Oh terrible desierto. Y los poetas
no cambian nunca arena en agua, aunque
alguno se lo propusiese. Pero algo cambia
si las palabras, liberadas
de su sentido primero, potenciándolo, evocan
despacio, deshaciéndose en espirales,
como el humo de una pipa o el vaho de un plato de sopa
caliente.
              Sí, las búsquedas señalan horas,
entonces, de cuando esta sala absorta
fue un espacio por la tarde de pesadas
cortinas transformando escondrijos
de gritos en amorosos cuchicheos, y pasan
blandos bizcochos de taza en taza.
                                                      Frágil,
de porcelana muy antigua, la muñeca
me asusta con esos ojos vidriosos
que tal vez se miran con las cuencas vacías
de aquella de quien fue juguete predilecto. ¿Qué
lágrimas de quincalla de frustrados amores,
en el pañuelo bordado?
                                    Todo está en su sitio, el polvo
inexistente se ha hecho silencio opaco
de chocolate espeso con leche.
                                                ¿Dónde están, los ausentes
que vivieron aquí?
                            ¿Vivir? Por el desierto
ya no transita ningún camello; el oasis,
suponiendo que te estrangulara la sed o tuvieses
hambre irresistible de dátiles de más allá de la muerte,
es más allá de las palabras un transparente silencio.
Pues atraviésalo y todo se te hará claro.


III

Si tant rosega el corc, emprova't la disfressa
de no mortal, inventa un carnaval
peculiar on assisteixin tots
els rosegats com tu.
                                La festa ha començat
ara mateix: cridant, empentegant-nos,
ebris d'eternitat, amb serpentines
i paperets de ser-feliç, anem d'un lloc a l'altre
de la casa del temps: aranyes de cristall
que ho il.luminen tot amb llum prodigiosa
negant la nit.
                      Escalinates
i passadissos que ningú no sap
on duen: sala de miralls
que ho multipliquen tot per l'infinit; així
veiem més vida i repetidament
anem mirant-nos fins que ens adonem
que som només imatges reflectides
pel cec mirall de la irrealitat.



III

Si tanto roe la carcoma, pruébate el disfraz
de inmortal, inventa un carnaval
peculiar al que asistan todos
los roídos como tú.
                              La fiesta ha empezado
en este instante: gritando, empujándonos,
ebrios de eternidad, con serpentinas
y papelitos de felicidad, vamos de un lugar a otro
de la casa del tiempo: arañas de cristal
que todo lo iluminan con prodigiosa luz
negando la noche.
                            Escalinatas
y pasillos que nadie sabe
donde llevan: sala de espejos
que multiplican todo por el infinito; así
vemos más vida y repetidamente
vamos mirándonos hasta que nos damos cuenta
que sólo somos imágenes reflejadas
por el espejo ciego de la irrealidad.


IV

Ajunto mots per fer-me un trampolí
vers l'àmbit líric i assajar al trapezi
de la metàfora, en el buit, un salt mortal
per assolir una mica de realitat
fora del temps,
                        ulls aclucats,
                                              com ara, en bicicleta,
en algun lloc del món assaja algú
precaris equilibris sense mans,
endut enllà, fins que de cop s'adona
que va rodant segur pel vell passeig
cap a la font primera.
                                  És al moment precís
de l'equilibri insòlit que obre els ulls
a la blavossa, incerta llunyania
de les muntanyes que no li caldrà
mai tramuntar, car són de sobte en ell,
són ell mateix o l'altre que s'ha fet
de cop en ell, i veu:
                                la Torre de les Hores
esdevé far, l'esfera del rellotge
no marca el temps, ans il.lumina absorta
la nit que va caient damunt els horts.



IV

Junto palabras para hacerme un trampolín
hacia el ámbito lírico y ensayar en el trapecio
de la metáfora, en el vacío, un salto mortal
para lograr un poco de realidad
fuera del tiempo,
                            con los ojos cerrados,
                                                              como ahora mismo, en bicicleta,
en algún lugar del mundo ensaya alguien
precarios equilibrios sin manos,
llevado más lejos, hasta que de pronto se da cuenta
que va rodando seguro por el viejo paseo
hacia la fuente primera.
                                    Es en el momento preciso
del insólito equilibrio cuando abre los
ojos a la azulada, incierta lejanía
de las montañas que no le hará falta
nunca traspasar, pues están de repente en él,
son él mismo o el otro que se ha hecho
de pronto en él, y ve:
                                la Torre de las Horas
se vuelve faro, la esfera del reloj
no marca el tiempo, más bien ilumina absorta
la noche que va cayendo sobre los huertos.


V

Les gerres d'alabastre a la barana
de la terrassa del Migdia, plenes
de pètals d'or translúcid, es trabuquen.
Silenci buit d'abelles que brunziren
aquí fa poc.
                  Per més que el vulgui retenir,
flueix els temps imperceptiblement.
Qui mai podrà fixar l'evanescència?

Amb tot, la campanada al vespre cau madura,
l'aire de bronze va tornant-se llac
profund i llis que reflecteix l'enigma
i puja una certesa del subsòl
com la verdor compacta en primavera.
En la casa impalpable tot s'atura.



V

Los jarrones de alabastro en la barandilla
de la terraza del Mediodía, llenos
de pétalos de oro translúcido, se desordenan.
Vacío silencio de abejas que zumbaron
hace poco aquí.
                        Por más que quiera retenerlo,
fluye el tiempo imperceptiblemente.
¿Quién podrá nunca fijar su evanescencia?

Pese a todo, al atardecer la campanada cae madura,
el aire de bronce va volviéndose lago
profundo y liso que refleja el enigma
y sube una certeza del subsuelo
como compacto verdor en primavera.
En la casa impalpable todo se para.


JOAN VINYOLI (De "Passeig d'aniversari", 1984)
(Versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 9 de agosto de 2014

"Vespre a la cafeteria", de Joan Vinyoli ("Passeig d'aniversari", 1984)

I

És un malson tenir sempre al calaix
tocant a mà, desada, l'ampolleta
de cianur per si m'urgís d'usar-lo,
davant l'absurditat de l'univers
o bé de l'home, inútil preguntaire
dins l'ordre imaginat pel demiürg.
Aturada la sang, ja no caldria
tancar i obrir cap altre porta
corcada ni tampoc encendre foc,
que l'estofat de vida té mal gust,
ni fer-me el llit, ni res.
                                    Quiti de fam,
de plers i de dolors, què sóc a l'últim?
No hi valen conjectures. Metafòric
amb tot menys amb la mort, ja respondran els cucs
en la tenebra.
                      Ara sols sé que tinc
dins meu esclats, umbracles de records,
incendis metal·lúrgics i tucans de vol
silenciós i tou que em parlen d'una selva
remota. Però l'au del paradís,
engabiada? I què, nosaltres tots?
Engabiats també.
                            Quina punyent recança
d'un sol perpetu i d'un gran lloc obert
on viure sempre!
                            Que el teixó ens abrigui
quan és hivern i l'hipopòtam gras
ens porti, en el temps cald, als rius on es rabeja.



I

Es una pesadilla tener siempre en el cajón
a mano, guardada, la botellita
de cianuro por si me urgiese usarlo,
ante la absurdidad del universo
o bien del hombre, inútil preguntón
dentro del orden imaginado por el demiurgo.

Detenida la sangre, ya no habría que
cerrar y abrir ninguna otra puerta
carcomida ni tampoco encender fuego,
que el estofado de vida tiene mal gusto,
ni hacerme la cama, ni nada.
                                            Liberado de hambre,
de placeres y de dolores, ¿qué soy al final?
No valen conjeturas. Metafórico
con todo menos con la muerte, ya responderán los gusanos
en las tinieblas.
                        Ahora sólo sé que tengo
dentro de mí estallidos, umbráculos de recuerdos,
incendios metalúrgicos y tucanes de vuelo
silencioso y blando que me hablan de una selva
remota. ¿Pero el ave del paraíso,
enjaulada? ¿Y todos nosotros, qué?
Enjaulados también.
                              ¿Qué penetrante pesadumbre
de un sol perpetuo y de un gran lugar abierto
donde vivir siempre!
                              Que el tejón nos abrigue
cuando sea invierno y el hipopótamo gordo
nos lleve, en el tiempo cálido, a los ríos donde se remoja.


II

No sempre les etapes de la vida
s'acaben com els arbres fugen, nets,
al viatger que mira amb ulls cansats,
posat el cor en la ciutat propera,
un cel de transparència matinal
o un aspre fons de roques, moderat
per una posta gran i fastuosa.

Descarrilat en una corba, el tren
s'estimba daltabaix d'una cinglera.
D'entre munts de ferralla es drecen homes
a viure en l'inconfort del seu hivern darrer:
l'executiu, l'incendiari, el sant,
la ballarina, el pobre, l'insensat,
en la bruta desfeta que fumeja.

Ah, si llavors, com d'un immens braser
de solidaritat, cremés un foc,
què no diríem d'aquest gran dolor
que ens ennuvola sempre el pensament?
Bastim, doncs, una tenda contra el vent,
siguem un simulacre de l'amor
i acabarem per ser tan sols amor.



II

No siempre las etapas de la vida
se acaban como los árboles huyen, nítidos,
al viajero que mira con ojos cansados,
puesto el corazón en la cercana ciudad,
un cielo de matinal transparencia
o un áspero fondo de rocas, moderado
por un ocaso grande y fastuoso.

Descarrilado en una curva, el tren
se despeña desde lo alto de un risco.
De entre montones de chatarra se levantan hombres
para vivir en la incomodidad de su último invierno:
el ejecutivo, el incendiario, el santo,
la bailarina, el pobre, el insensato,
en la sucia derrota que humea.

Ah, si entonces, como de un inmenso brasero
de solidaridad, quemara un fuego,
¿qué no diríamos de este gran dolor
que nos nubla siempre el pensamiento?
Levantemos, pues, una tienda contra el viento,
seamos un simulacro del amor
y acabaremos por ser tan sólo amor.


III

La gent és un perfet, il·limitat
singular repetit. Només el tu
val per entendre's en la immensitat
de l'univers. Quan miro el cel com lluu,
amb milions d'estels il·luminat,
i veig la terra fosca, amb tant de fel
i goig banal, em dic: L'únic estel
que val és el que fa volar, encisat,
un nen, cor innocent, a qui no veu ningú.

Perquè sent tan aprop bolquer y mortalla,
l'home no cessa d'inventar poders
contra la por sinistra que el tenalla.
Visquem, puix que som vius, dols y plaers.
I no pensem que hi ha cap Faç Inmensa
a l'hora greu de l'última partença.
Quan els depredadors hauran tornat no-res
el nostre cos, tindrem l'omnipotència
de ser ben morts. No imploris mai clemència.
Ningú no et sent dins l'eternal fluència.



III

La gente es un perfecto, ilimitado
singular repetido. Sólo el tú
sirve para entenderse en la inmensidad
del universo. Cuando miro el cielo como luce,
iluminado por millones de estrellas,
y veo la oscura tierra, con tanto hiel
y gozo banal, me digo: La única cometa
que vale la pena es la que hace volar, encandilado,
un niño, corazón inocente, a quien nadie ve.

Porque estando tan próximos el pañal y la mortaja,
el hombre no cesa de inventar poderes
contra el miedo siniestro que lo atenaza.
Vivamos, puesto que estamos vivos, lutos y placeres.
Y no pensemos que hay ninguna Faz Inmensa
en la hora grave de la última partida.
Cuando los depredadores hayan convertido en nada
nuestro cuerpo, tendremos la omnipotencia
de estar bien muertos. No implores nunca clemencia.
Nadie te escucha en la eternal fluencia.


JOAN VINYOLI (De "Passeig d'aniversari", 1984)
(Versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 8 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", y (XV), de Joan Vinyoli

Tot és per ser donat i no t'ho vol ningú,
cor meu, potser les pedres mudes
o bé la matinada.
                            Cor, no et precipitis
a voler més, no et tanquis
per molt que faci mal.
                                    Estima
sense voler ser correspost.
                                          Posa't a prova:
calla i escolta l'indiscriminat
so de la vida.
                      Sol, cada batec
es correspon potser amb alguna cosa.

JOAN VINYOLI



(XV)

Todo es para ser dado y no lo quiere nadie,
corazón mío, quizá las piedras mudas
o quizá la madrugada.
                                  Corazón, no te precipites
a querer más, no te cierres
por mucho que duela.
                                  Ama
sin querer ser correspondido.
                                            Ponte a prueba:
calla y escucha el indiscriminado
sonido de la vida.
                            Solo, cada latido
se corresponde quizá con algo.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 7 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", (XIV), de Joan Vinyoli

Caigué la nit i s'estremiren
totes les fulles un moment, la terra
exhalà el seu baf càlid, des del mar
bullent pujà la fressa coneguda
de sempre. Tot en ordre
semblava, en el bell ordre, p'rò els camins
no duien cap al poble, ni al llindar
de casa: rius feréstecs en la nit
se m'emportaven, sola, cap al centre
mateix de l'ésser, de les terres de l'Enlloc.

JOAN VINYOLI



(XIV)

Cayó la noche y se estremecieron
un momento todas las hojas, la tierra
exhaló su cálido vaho, desde el hirviente
mar ascendió el fragor conocido
de siempre. Todo parecía
en orden, en el bello orden, pero los caminos
no llevaban hacia el pueblo, ni al umbral
de casa: ríos indómitos se me llevaban
en la noche, sola, hacia el centro
mismo del ser, de las tierras de Ninguna parte.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

miércoles, 6 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", (XIII), de Joan Vinyoli

Estranyes flors, aquestes que he trobat
per la ribera de l'insomni: xiscles
de vent i diamants d'escuma
brillant al sol.
                      He vist la vida coronar-se'n,
la folla amb gest de mar.
No em vagui de lligar-la -damunt l'ona,
l'escuma dura més; quedi ben lliure,
sola i escabellada dalt les roques,
indòmita.
              Mesuro la fondària
on a la fi caurà desfeta en crits.

JOAN VINYOLI



(XIII)

Extrañas flores, éstas que he encontrado
por la ribera del insomnio: chillidos
de viento y diamantes de espuma
brillando al sol.
                      He visto la vida coronarse,
loca con gesto de mar.
No se me ocurra atarla -encima de la ola,
la espuma dura más; quede muy libre,
sola y desmelenada sobre las rocas,
indómita.
              Mido la profundidad
donde al final caerá deshecha en gritos.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

martes, 5 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", (XII), de Joan Vinyoli

Digues-me, vida, què fer
de les meves mans, dels braços,
del silenci dels meus passos
que envaeix com un perfum?

De música em tornaré,
no fos que, estrenyent-me els braços
teus, vida, em fessis malbé;
em tornaré pols de llum.

JOAN VINYOLI



(XII)

¿Dime, vida, qué hacer
de mis manos, de los brazos,
del silencio de mis pasos
que invade como un perfume?

Me volveré música,
no fuera que, estrechándome
tus brazos, vida, me estropearas;
me volveré polvo de luz.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 4 de agosto de 2014

Cants d'Abelone", (XI), de Joan Vinyoli

Tot és de pedra, però si
canta una veu acompanyant-se
d'ella mateixa en esperança,
fa planer el tortuós camí.

És a perdre'm que vaig sortir
de la cova, sense mirada.
Ara sóc temple de rosada
i Orió ja fa part de mi.

Per l'espai abrilat i clar
sóc una alosa que al sol mira.
M'he tornat una esvelta lira
per ser polsada i per vibrar.

JOAN VINYOLI



(XI)

Todo es de piedra, pero si
canta una voz acompañándose
de ella misma en esperanza,
hace fácil el tortuoso camino.

Fue para perderme que salí
de la cueva, sin mirada.
Ahora soy templo de rocío
y Orión ya forma parte de mí.

Por el espacio abrileño y claro
soy una alondra que al sol mira.
Me he vuelto una esbelta lira
para ser pulsada y vibrar.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

domingo, 3 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", (X), de Joan Vinyoli

Tot calla, tot es resisteix;
cada vegada es fa més i més ampla
la solitud al meu entorn.
Hi ha una font viva que no para
mai de rajar: l'escolto
de nit al cor de cada cosa.

JOAN VINYOLI



(X)

Todo calla, todo se resiste;
cada vez se hace más y más ancha
la soledad a mi alrededor.
Hay una fuente viva que no para
nunca de manar: la escucho
de noche en el corazón de cada cosa.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 2 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone!", (IX), de Joan Vinyoli

...I què faré de mi
si ja no sé com expandir-me?
Com aniria més enllà d'on sóc?
I que m'espera que no sigui vent
efímer que passa?
Per això visc en desenfrè quiet
parlant del foc o de la pedra o dels núvols.

L'arbre de sang es ramifica, diuen,
a les entranyes, que aquest fruit és bo.
Per a quin fruit a mi van escollir-me,
que moro de sentir-me'l i no poder-lo dar?

Ah, no sé si mai més el silenci vespral moderarà els meus batecs
ni si mai més podré cabre en els jardins de la terra.
Cantaré sola allargant els braços.
Dormiré dreta amb els ulls oberts.

JOAN VINYOLI



(IX)

...¿Y qué haré conmigo
si ya no sé como expandirme?
¿Cómo iría más allá de donde estoy?
¿Y qué me espera que no sea viento
efímero que pasa?
Por eso vivo en desenfreno quieto
hablando del fuego o de la piedra o de las nubes.

El árbol de la sangre se ramifica, dicen,
en las entrañas, pues este fruto es bueno.
¿Para que fruto me escogieron a mí,
que muero de sentirlo y no poderlo dar?

Ah, no sé si nunca más el silencio vespertino moderará mis latidos
ni si nunca más podré caber en los jardines de la tierra.
Cantaré sola alargando los brazos.
Dormiré de pie con los ojos abiertos.

JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 1 de agosto de 2014

"Cants d'Abelone", (VIII), de Joan Vinyoli

Aquest matí m'he despertat flairosa
com una mata d'espígol.
Una estona he trafeguejat
pels racons foscos de la casa,
deixant a lloc les coses de la nit.
He buscat pisa vella en golfes d'ombra,
un collaret de gres o bé un topazi
perdut, que fa que plori el meu passat.
He sortit fora i se m'ha fet de cop
familiar i greu l'hora de prima.
L'alosa canta a la porta del cel.

          Sent, l'alosa canta a la porta del cel.
          Hark, hark, the lark at heaven's door sings.
          SHAKESPEARE


JOAN VINYOLI



(VIII)

Esta mañana me he despertado olorosa
como una mata de espliego.
He trajinado un rato
por los rincones oscuros de la casa,
poniendo en su sitio las cosas de la noche.
He buscado loza vieja en buhardillas de sombra,
un collar de gres o bien un topacio
perdido, que hace que llore mi pasado.
He salido fuera y se me ha hecho de golpe
familiar y grave la hora de prima.
La alondra canta en la puerta del cielo.

          Escucha, escucha, la alondra canta en la puerta del cielo.
          Hark, hark, the lark at heaven's door sings.
          SHAKESPEARE


JOAN VINYOLI
(Versión de Pedro Casas Serra)