martes, 26 de enero de 2016

“LEÃO” de Thiago de Mello (De Horóscopo para os que estão vivos, 1984)

LEÃO

(21 de Julho a 20 de Agosto)

Leão é fogo, sonhos cerrados,
a rosa de amor feita de brasa.
A vida te será amável,
companheiro que avanças
sob o sortilégio do Sol.

A menos que sejas um Leão
cujos dias se cumprem
em certos pedaços de chão como o do Nordeste
da minha pátria, sob o sol da injustiça.
Mas é desgraça demasiada
para tão pouco horóscopo.
De resto, trata o meu zodíaco da vida,
que não é precisamente o que tu levas,
companheiro camponês.
Contudo, algo te digo: não te submetas,
dentes de esmeralda já se cravam
na entranha do latifúndio.

Quanto a ti, Leão poderoso,
sei que não calculas os momentos que vives,
não calculas nem medes,
confias nos teus átomos,
te encantam as turquesas,
ostentas a gordura,
esbanjas as suavidades.
Tuas razões terás, e são das fortes,
porque se nutrem da alheia desventura.
Mas não posso ocultar-te
que vejo fluidos escuros
baixando sobre tua cabeça.
Enquanto caminhas confiante,
levado por tua extrema ganância,
Saturno está só te olhando
com seu olho implacável.

Te recomendo, para começar,
empinar um papagaio agora mesmo,
pelo menos uma tarde por mês,
e publicamente.
Queres que eu te diga tudo?
Haverá um instante de inverno
em que sete astros se unirão
à esquerda da tua indiferença.
Sete astros, sete ventos,
sete nebulosas verdes,
sete segredos reunidos
contra tua força de homem,
que sempre foste sozinho,
que apenas contas contigo.
Vais ver enfim como te odeia
a multidão que te adula.
Vê se descobres um irmão,
vê se ainda podes ser irmão,
talvez possas, ainda é tempo.
Depende do teu coração,
se é que ainda o levas.

E tu, doce mulher de Leão,
não abandones assim tanto a cozinha:
inventa um guisado,
com aipo, ternura e orégano,
em fogo bem brando,
para o teu homem.
Thiago de Mello, Horóscopo para os que estão vivos, 1984.


LEO

(21 de julio a 20 de agosto)

Leo es fuego, ocultos sueños,
la rosa del amor hecha brasa.
La vida te será amable,
compañero que avanzas
bajo el sortilegio del Sol.

A menos que seas un Leo
que celebre su aniversario
en ciertos lugares del Nordeste
de mi patria, bajo el sol de la injusticia.
Pero es demasiada desgracia
para tan corto horóscopo.
Por lo demás, mi horóscopo trata de la vida,
que no es precisamente lo que tú disfrutas,
compañero campesino.
Pero, algo te digo: no te sometas,
dientes de esmeralda se clavan ya
en las entrañas del latifundio.

En cuanto a ti, Leo poderoso,
sé que no calculas los momentos que vives,
no calculas ni mides,
confías en tus moléculas,
te encantan las turquesas,
exhibes gordura,
derrochas suavidades.
Tus razones tendrás, y son de las poderosas,
porque se nutren de la desventura ajena.
Pero no puedo ocultarte
que veo fluidos oscuros
descendiendo sobre tu cabeza.
Mientras caminas confiado,
a causa de tus exageradas ganancias,
Saturno está mirándote
con su ojo implacable.

Te recomiendo, para empezar,
hacer volar ahora mismo una cometa,
como mínimo una tarde al mes,
y públicamente.
¿Quieres que te lo diga todo?
Habrá un instante del invierno
en que siete astros se unirán
a la izquierda de tu indiferencia.
Siete astros, siete vientos,
siete nebulosas verdes,
siete secretos reunidos
contra tu fuerza de hombre,
que siempre estuviste solo,
que sólo cuentas contigo.
Verás finalmente como te odia
la multitud que te adula.
Mira si hallas un hermano,
mira si aún puedes ser hermano,
tal vez puedas, aún es tiempo.
Depende de tu corazón,
si es que aún lo tienes.

Y tú, dulce mujer Leo,
no abandones tanto la cocina:
inventa un guiso,
con apio, ternura y orégano,
a fuego muy lento,
para tu hombre.

Thiago de Mello, Horóscopo para vivos, 1984.
(Versión de Pedro Casas Serra)

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