lunes, 4 de julio de 2016

“PÁSSARO” de Cecilia Meireles (De Retrato Natural, 1949)

PÁSSARO

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.

Cecilia Meireles (In Retrato Natural, 1949)


PÁJARO

Aquello que ayer cantaba
ya no canta.
Murió de flor en la boca:
no de espina en la garganta.

Amaba el agua sin sed,
y, en verdad,
teniendo alas, miraba el tiempo,
libre de necesidad.

No fue deseo o imprudencia:
no fue nada.
Y el día toca en silencio
la desventura causada.

Si acaso eso es desventura:
irse la vida
sobre una rosa tan bella,
por una tenue herida.

Cecilia Meireles
(Versión de Pedro Casas Serra)

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